Entrou na loja dos Srs. Mourões, e vendeu o brilhante por 250$000 réis.
Voltou a tremer, medindo a gravidade do delito pela abundância de oiro e prata que lhe pesava de certo modo na consciência. Entregou o dinheiro a sua ama, e abalançou-se a fazer considerações timoratas sobre o alcance de tal passo.
D. Ângela rebateu os sustos de Vitorina com o seu ar de infinita alegria - raio de luz que muitos anos havia não tinha tocado os lutos daquela alma.
- As minhas jóias já ele me disse que valeriam quatro ou cinco contos - ajuntou Ângela para aliviar dos escrúpulos a meticulosa criada. - Quando ele (ele era o marido) desse fé que eu dispusera destes brilhantes lá tem os de minha mãe para se ressarcir.
- Mas o pior é se ele pergunta a quem vossa excelência deu o dinheiro... - contrariou a sisuda velha.
- Se pergunta, responderei “dei-o”. Verás que sou pontual no que prometo, se chegar essa ocasião.
- Deus nos acuda por sua sagrada paixão, e morte!... - esconjurou Vitorina, e acomodou-se para não agourentar a exultação da ama.
No dia seguinte, à hora aprazada, chegou a irmã de Francisco Costa. Foi recebida com grande contentamento.
- A minha amiga - disse a filha do general com a mesma gravidade do dia anterior - continua a jurar pela memória de seu marido que fará quanto eu lhe disser, e não revelará a seu irmão palavra do que se aqui passar. Jura?
- Farei o que vossa excelência disser, sendo coisa que não possa acarretar-lhe desgostos.
- Não me ponha condições; se mas põem, torna-me mais desgraçada do que eu era - disse Ângela com transporte, perdendo por instantes a alegria que lhe iluminava o rosto.
- Farei o que vossa excelência mandar.
- Bem. Escute-me. Quero que a senhora mude de situação, de casa, e de tudo.