O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 17: CAPÍTULO V Pág. 106 / 245

A nossa amizade nada perde, e nada sofre. Ela foi para mim um capricho, e história de um momento. Agora nem uma recordação é…

Continuaram falando baixo, e melancolicamente. Eu fui encostar-me um momento à amurada. Erguera-se vento, e o vapor começava a jogar…

Quando me aproximei de novo dos grupos ruidosos, ouvi casualmente Carmen que dizia:

- Onde se some aquele capitão Ritmel? Desapareceu outra vez com a condessa, não viram? Vamos procura-los.

Compreendi a traição. Corri rapidamente, sem ser percebido, à tenda fumoir, entrei, sentei-me num banco, conversando alto, ao acaso. A tenda estava apenas alumiada por uma lanterna. A condessa ao ver-me aparecer assim tão bruscamente, fizera-se pálida de cólera.

Mas neste momento chegavam alguns oficiais, gritando:

- Ritmel! Ritmel!

Eu adiantei-me, dizendo:

- Que é? Estamos aqui; não queremos dançar mais…

Os oficiais afastaram-se. A condessa percebeu que eu a tinha salvado de uma situação penosamente equivoca, e o seu olhar agradeceu-me, profundamente.

- Desça, condessa, desça, segredei-lhe eu.

Ela disse com um sorriso melancólico a Ritmel:

- Está frio, adeus!

Ritmel e eu voltámos para o grupo dos oficiais.

Eu queria-me vingar-me de Carmen; lembrou-me o torna-la o centro de ruido, e de orgia.

- Señorita! disse-lhe eu, cante-nos uma seguidilha ou uma habanera! Faz um belo efeito no alto mar. Estão aqui gentlemen que nunca ouviram a música dos nossos países.

- Sim, sim, gritaram todos. Uma seguidilha!

Ela queria recusar-se, descer ao beliche.

- Não, não, cante, milady, cante!

Os pedidos eram instantes, e ruidosos. Ela cedeu, ergueu a voz, no meio do silêncio, acompanhada pelo monótono ruido do vapor e pelo vento crescente, e cantou com uma voz forte e languida:

Á la puerta de mi casa

Hai una piedra muito larga…

Os ingleses estavam extáticos.





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