O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 4: CAPÍTULO III Pág. 15 / 245

O meu filho nascerá provavelmente esta noite ou amanhã pela manhã; não devendo saber ninguém quem é sua mãe, não devendo sequer por algum indício vir a suspeitar um dia quem ela seja, é preciso que o doutor ignore quem são as pessoas com quem fala, e qual é a casa em que vai entrar. Eis o motivo porque nós temos no rosto uma mascara; eis o motivo porque os senhores nos hão de permitir que continuemos a ter cerrada esta carruagem, e que lhes vendemos os olhos antes de os apearmos em frente do prédio a que vão subir. Agora compreende, continuou ele dirigindo-se a F…, a razão porque nos acompanha. Era-nos impossível evitar que o senhor viesse hoje de Sintra com o seu amigo, era-nos impossível adiar esta visita, e era-nos impossível também deixa-lo no ponto da estrada em que tomámos o doutor. O senhor acharia facilmente meio de nos seguir e de descobrir quem somos.

- A lembrança, notei eu, é engenhosa mas não lisonjeira para a minha discrição.

- A confiança na discrição alheia é uma traição ao segredo que nos não pertence.

F… achava-se inteiramente de acordo com esta maneira de ver, e disse-o elogiando o espírito da aventura romanesca dos mascarados.

As palavras de F… acentuadas com sinceridade e com afeto, pareceu-me que perturbaram algum tanto o desconhecido. Figurou-se-me que esperava discutir mais tempo para conseguir persuadir-nos e que o desnorteava e surpreendia desagradavelmente esse corte imprevisto. Ele, que tinha a replica pronta e a palavra fácil, não achou que retorquir à confiança com que o tratavam, e guardou, desde esse momento até que chegámos, um silencio que devia pesar às suas tendências expansivas e discursadoras.

É verdade que pouco depois deste diálogo a carruagem deixou a estrada de macadam em que até aí rodara e entrou num caminho vicinal ou num atalho.





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