O solo era pedregoso e esburacado; os solavancos da carruagem, que seguia sempre a galope governada por mão de mestre, e o estrepito dos stores embatendo nos caixilhos mal permitiriam conversar.
Tornámos por fim a entrar numa estrada lisa. A carruagem parou ainda uma segunda vez, o cocheiro apeou rapidamente, dizendo:
- Lá vou!
Voltou pouco depois, e eu ouvi alguém que dizia:
- Vão com raparigas para Lisboa.
A carruagem prosseguiu.
Seria uma barreira da cidade? Inventaria o que nos guiava um pretexto plausível para que os guardas nos não abrissem a portinhola? Entender-se-ia com os meus companheiros a frase que eu ouvira?
Não posso dize-lo com certeza.
A carruagem entrou logo depois num pavimento lajeado e daí a dois ou três minutos parou. O cocheiro bateu no vidro, e disse:
- Chegámos.
O mascarado que não tornara a pronunciar uma palavra desde o momento que acima indiquei, tirou um lenço da algibeira e disse-nos com alguma comoção:
- Tenham paciência! perdoem-mo… Assim é preciso!
F… aproximou o rosto, e ele vendou-lhe os olhos. Eu fui igualmente vendado pelo que estava em frente de mim.
Apeámo-nos em seguida e entrámos num corredor conduzidos pela mão dos nossos companheiros. Era um corredor estreito segundo pude deduzir do modo porque nos encontrámos e demos passagem a alguém que saía. Quem quer que era disse:
- Levo a carruagem?
A voz do que nos guiara respondeu:
- Leva.
Demorámo-nos um momento. A porta por onde tínhamos entrado foi fechada à chave, e o que nos servira de cocheiro passou para diante dizendo:
- Vamos!
Demos alguns passos, subimos dois degraus de pedra, tomámos à direita e entrámos na escada. Era de madeira, ingreme e velha, coberta com um tapete estreito.