Horrível transformação porque ela passara! Durante as poucas horas que tinham mediado entre esse momento e a última vez que a vira, a condessa de W… tinha envelhecido dez anos. Os olhos profundamente encovados tinham tomado uma expressão apagada e imóvel; a carne tinha uma cor térrea e opaca; os músculos faciais, contraídos na mais violenta opressão, davam-lhe ao rosto, transversalmente vincado por dois sulcos escuros, o aspeto de uma magreza extrema; os cabelos apanhados todos para traz, alisados e seguros num rolo sobre a nuca, avultavam-lhe o nariz afilado e despegavam-lhe do crânio as orelhas lívidas, de uma saliência rija e cadavérica.
Fez-me sinal que a acompanhasse. Segui-a com a sensação enregelada de quem entra nos domínios da morte. Atravessámos uma sala e entrámos num dos quartos dela. Apontou para um sofá e sentou-se ao meu lado, olhando para mim, impassível.
Ficou assim por um momento na mudez de uma dor intraduzível, pausa terrível em que a alma emerge de um abismo de lágrimas e se debate violentamente antes de aparecer na voz.