No dia seguinte às onze horas da manhã, todos nós, os que tínhamos ficado nessa casa fatal, nos achávamos reunidos, de rosto descoberto, em torno do cadáver.
O doutor havia sido conduzido ao ponto da estrada de Sintra, em que fora tomado na véspera.
F…, encarcerado durante a noite num quarto interior da casa, havia comunicado com um alemão que habitava o prédio contiguo, e passara-lhe de manhã por um buraco feito no tabique, a carta ao doutor, publicada mais tarde no Diário de Noticias. Em seguida arrombou a porta do quarto que lhe servia de carcere, e depois de uma altercação violenta, arrancou a mascara ao primo da viscondessa. Os outros dois mascarados, vendo o seu companheiro descoberto, tiraram igualmente as mascaras. Um deles era íntimo amigo de F…
- Que é isto?… Como pode isto ser?… gritou F… exaltado.
E apontando em seguida para o cadáver, continuou:
- Aquele homem está morto, e foi roubado. Depressa expliquem-se! como pode isto ser?
- Meus senhores, - exclamou o mascarado alto - o segredo que eu tenho tido no meu dever guardar dentro dos muros desta casa, e que espero fique para sempre sepultado nela, pertence a uma senhora. Uma parte deste segredo, aquela que mais particularmente nos interessa, a que explica a presença daquele cadáver diante de nós, conhece-a este senhor.
E voltando-se para mim ao dizer estas palavras, acrescentou:
- Em nome da nossa dignidade, emprazo-o pela sua honra a que declare o que sabe.
- Jurei não o dizer - respondi eu - não o direi nunca. Ao entrar aqui, em presença de um perigo que julguei iminente sobre a cabeça das pessoas mais particularmente envolvidas neste mistério, perdi os sentidos, desmaiei mulheril e miseravelmente. Falta-me diante do perigo a energia física, que é a feição visível do valor.