O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 36: CAPÍTULO III Pág. 198 / 245

Imaginava que era pública a aventura do meu coração, que era julgada como uma criatura de paixões fáceis, o que dava a todos o direito de me fazerem corar. Quantas vezes saí do teatro afogada em lágrimas! Analisava os gestos, os olhares, os movimentos dos lábios. «Fulana olhou-me com desdém! Aquele riu-se insolentemente, quando eu passei! Aqueloutra afetou não me ver.» Se numa modista, ao escolher um vestido, me diziam: «Esta cor é alegre, é bonita!» eu pensava comigo: «Bem sei, aconselham-me as cores vivas, ruidosas, as cores do escândalo, o género artiste!» E saía, fechava os stores do meu coupé, chorava desafogadamente.

Não me atrevia a beijar uma criança; olhava-a com uma ternura inefável, ia a toma-la nos braços, mas dizia comigo: «Deixa esse pobre anjinho, não és bastante pura para lhe tocar!»

Devo dizer tudo. Corava diante do meu cocheiro! Sorria-lhe com o maior carinho: temia a todo o momento uma má resposta, uma audácia, uma palavra acusadora. Quando eu entrava para a carruagem, e ele se erguia respeitosamente, eu ficava tão satisfeita daquela prova de atenção, que tinha vontade de o abraçar…

Acha odioso, não?

Defino o meu estado por uma palavra precisa e terrível: quando meu marido me apertava expansivamente a mão, eu sofria tanto como se o outro me atraiçoasse!

Ai de mim! Quantas vezes quis eu consolar o meu orgulho, pensando nas glórias dramáticas do sofrimento e do martírio! Quantas vezes me comparei às figuras líricas da paixão, que contam as legendas da sua dor ao ruido das orquestras, à luz das rampas, e que são Traviata, Lúcia, Elvira, Amelia, Margarida, Julieta, Desdémona! Ai de mim! mas onde estavam os meus castelos, os meus pajens, e o ruido das minhas cavalgadas? Uma pobre criatura que vive da





Os capítulos deste livro