O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 38: CAPÍTULO V Pág. 210 / 245

Sufoquei a dor, e estendi-lhe outra vez o braço…

- Oh! Sr. Fradique! gritaram todos, escandalizados com a invenção monstruosa.

- Comeu mais, continuou ele gravemente, gostou e pediu outra vez.

Falava com um sorriso fino, quase beatífico. Nós íamos revoltar-nos contra a cruel excentricidade daquela história.

Neste momento vi à porta da sala, trémula, com um grande espanto nos olhos, chamando-me baixo, a minha criada Bety. Fui: ela tomou-me pela mão, foi-me levando, e no corredor, olhando com receio, abrindo num grande pasmo os braços, disse-me ao ouvido:

- É ele!

Encostei-me desfalecidamente à parede, sentindo parar o coração.

Bety, com passos discretos foi abrir a porta do meu toilete. Entrei. De pé junto de uma mesa, extremamente pálido, estava ele. Apertei as mãos sobre o peito, fiquei imóvel, suspensa. Ele caminhou para mim com os braços abertos, para me envolver; eu deixei-me cair aos seus pés, e calada beijei-lhe os dedos. Ele tinha ajoelhado comigo, e com as mãos enlaçadas, os olhos confundidos, chorávamos ambos. Eu só dizia num murmúrio de lágrimas:

- Há tanto tempo!…

- Minha senhora, minha querida menina, dizia Bety da porta, e aquela gente, santo Deus, que há de dizer?

Eu não a escutava. Foi ele que disse sorrindo:

- Tem razão, Bety, tem razão! É necessário voltar à sala.

E deu-me o braço. Entrámos: ele grave, eu meio desfalecida, abstrata, com os olhos marejados de lágrimas e um sorriso vago nas feições.

Disse o nome de captain Ritmel, e a sua antiga amizade com o conde. Vi a marquesa sorrir levemente.

E voltando-me para Ritmel:

- O Sr. Carlos Fradique, disse eu, antigo pirata.

Os dois homens apertaram a mão.

- A senhora condessa lisonjeia-me extremamente. Eu fui apenas corsário, disse Carlos.





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