- Tudo isso não quer dizer nada.
- Oh minha querida amiga…
- A sua querida amiga, interrompi, nada mais pede que um coração franco e reto. São tudo pois imaginações minhas? Não há nada que nos separe? Pois bem, vou dizer-lhe uma coisa e juro-lhe que é irremissível, juro que o digo em toda a frieza do meu juízo, sem exaltação e sem paixão, com o discernimento mais livre, o cálculo mais positivo…
- Mas, meu Deus! Diga…
- E esta resolução, aceita-a?
- Uma resolução… E o que envolve ela?
- Envolve a única coisa possível, a única que me fará crer em si, com a mesma fé com que creio em mim. Aceita-a?
- Mas como não hei de aceitar?…
- Pois bem, comecei eu.
E tomando-lhe as mãos, disse-lhe junto da face numa voz ardente como um beijo:
- Fujamos amanhã.
Ritmel empalideceu levemente e retirando devagar as suas mãos dentre a pressão das minhas:
- E sabe que é uma coisa irreparável?
- Sei.
Ele sentara-se, com os olhos sobre o tapete, e eu no entanto, de pé junto dele, com a minha mão pousada sobre o seu ombro, dizia-lhe como no murmúrio de um sonho:
- Pensava nisto há um mês.