Ele então ajoelhou ao meu lado, e tomando-me as mãos, espreitando os meus olhos impassíveis, ficou esperando, numa contemplação amante e paciente, que eu quebrasse aquela imobilidade. Eu sentia todo o meu ser pender para ele, numa atração insensível; mas dominava-me. Até que por fim ele ergueu-se lentamente, arremessou o corpo para um sofá, e ali ficou, como refugiado, folheando um volume de Musset, que estava sobre a mesa…
Levantei-me, tirei-lhe arrebatadamente o livro das mãos:
- Sabe o que é? Não o compreendo, e é necessário que me diga, mas francamente, claramente, silaba por silaba, o que tem! Não me ama, é claro. Escusa de protestar. Vi-o logo pelo tom das primeiras cartas que me escreveu de Londres. E agora vejo-o pelo seu olhar, as suas menores palavras, o seu silêncio, até. há uma coisa qualquer, não sei qual, mas há. A verdade é que me abandona, que me não ama. É necessário que se explique. Isto não pode ser assim. Sofro. Se soubesse! chorei toda a noite…
E recomecei a chorar diante dele, com soluços que me quebravam. Ele tinha-me tomado as mãos e dizia-me baixo as coisas mais tocantes, em que havia as ternuras do amante e as consolações do amigo. Afastei-o de mim, e comprimindo o choro:
- Não, não, é necessário que me diga claramente tudo. Eu não sei o que te quero perguntar ou não me atrevo talvez… Mas tu sabes o que me deves responder… Diz-me a verdade…
Ele, cruzando os braços, respondeu-me, com uma extrema placidez:
- Mas, minha querida amiga, a verdade é que as ilusões do seu espirito são a nossa desgraça. Não é culpa sua, sei: é uma fatalidade do carater feminino. É-lhes insuportável a serenidade. Na vida pacífica procuram o romance, no romance procuram a dor. É necessário que esses pequeninos e graciosos crânios tenham sempre a honra de cobrir uma tempestade.