Quando acabei de ler esta carta, sentei-me maquinalmente diante das malas, com os olhos fixos, como idiota. Abri uma gaveta, tirei não me recordo que pequeno objeto de renda, e tornei a fechar, com um movimento automático, lúgubre, e a ausência absoluta da consciência e da vida. Chamei Bety:
- Bety, que horas são?
- Onze, minha senhora.
- Dá-me água, tenho sede. Dá-me água com limão…
Quando ela saiu fui encostar a cabeça à vidraça, a olhar o movimento ondeado e lento das ramagens escuras. A lua pareceu-me regelada. Bety entrou.
- Bety, disse-lhe eu numa voz sumida, sabes? Tenho medo de morrer doida…
Ela olhou-me, e viu no meu rosto uma tal expressão de angústia, que me disse:
- Que tem, meu Deus, que tem? Chore, minha rica menina, chore…
- Não posso, não posso. Eu morro… Vem para o pé de mim, Bety!…
- Meu Deus, quer-se deitar? diga…
E erguendo os olhos e as mãos, numa imploração cheia de dor, de desespero:
- Deus me leve para si! Ai! nada disto era se a mamã fosse viva, minha senhora!
Começou a chorar. Eu olhei-a com uma grande aflição, senti os olhos húmidos, os soluços sufocaram-me, e arremessando-me aos seus