O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 41: CAPÍTULO VIII Pág. 224 / 245

Morreremos enfim como dois seres estéreis, que nada criaram, e que não têm quem fique na terra com a herança do seu carater; e quando todos pelos seus filhos ganham a única justa imortalidade, nós somente seremos mortais, e para nós mais que para ninguém será terrível a lembrança do fim! Perdoa que te escreva estas coisas. Mas fiz o meu dever. E agora posso livremente, insuspeitamente, dizer-te que me sinto feliz, e que o momento de amanhã, quando virmos desaparecer a terra e nos acharmos sós, no infinito mar, - será para mim tão belo, que só por ele julgarei justificada a minha vida.»

Quando acabei de ler esta carta, sentei-me maquinalmente diante das malas, com os olhos fixos, como idiota. Abri uma gaveta, tirei não me recordo que pequeno objeto de renda, e tornei a fechar, com um movimento automático, lúgubre, e a ausência absoluta da consciência e da vida. Chamei Bety:

- Bety, que horas são?

- Onze, minha senhora.

- Dá-me água, tenho sede. Dá-me água com limão…

Quando ela saiu fui encostar a cabeça à vidraça, a olhar o movimento ondeado e lento das ramagens escuras. A lua pareceu-me regelada. Bety entrou.

- Bety, disse-lhe eu numa voz sumida, sabes? Tenho medo de morrer doida…

Ela olhou-me, e viu no meu rosto uma tal expressão de angústia, que me disse:

- Que tem, meu Deus, que tem? Chore, minha rica menina, chore…

- Não posso, não posso. Eu morro… Vem para o pé de mim, Bety!…

- Meu Deus, quer-se deitar? diga…

E erguendo os olhos e as mãos, numa imploração cheia de dor, de desespero:

- Deus me leve para si! Ai! nada disto era se a mamã fosse viva, minha senhora!

Começou a chorar. Eu olhei-a com uma grande aflição, senti os olhos húmidos, os soluços sufocaram-me, e arremessando-me aos seus





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