Senti o mais cruel dos ciúmes todos; aquele que se define, que diz um nome, que desenha um perfil, que no-lo mostra, o nosso inimigo, que nos enche as mãos de armas, que nos obriga a avançar para ele. Eu sentia no meu ciúme um ponto fixo - ela. Era ela, a outra! Lembrava-me confusamente: tinha cabelos louros, finos, espalhados, uma nuvem de ouro esfiado. Eu tinha-a visto em Paris vestida de roxo na revista de Longchamps. O seu olhar era franco: os homens deviam encontrar nele o quer que fosse, que prometia um destino pacífico. Que secreto encanto se irradiaria da esbelta fraqueza do seu corpo? Era a simplicidade? Era a inteligência? Era a ciência das coisas do amor?… Como eu ardia por a conhecer! E não sabia nada dela senão que era irlandesa, e que se chamava Miss Shorn!
Ah sim, sabia outra coisa - que ele a amava!
Conhece-la! conhece-la! Mas como? Podia ser, pelas suas cartas! decerto! Ela devia pôr nelas toda a sua íntima personalidade. Era loira, era inglesa, por isso raciocinadora: devia escrever pacificamente, sem sobressaltos, e sem inspirações da paixão; nas suas cartas provavelmente desfiava o seu coração. Eu conhecê-la-ia bem, se as lesse! Eu saberia o estado de espirito de Ritmel, a marcha da sua paixão, pelas cartas dela. Devia lê-las! Era necessário pedi-las, rouba-las, compra-las, eu sei! Mas era necessário lê-las!
Para pensar assim eu nenhuma prova tinha de que ele recebia cartas dela, mas tinha a certeza que elas existiam e que o seu coração estava cheio delas…
Quis serenar, pacificar-me, dormir.