O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 5: CAPÍTULO IV Pág. 23 / 245

Era efetivamente um lenço. Guardei-o, apalpei-o no bolso com grande delicadeza de tato; era fino, com rendas, um lenço de mulher. Parecia ter bordadas uma firma e uma coroa.

Neste momento deram nove horas. Um dos mascarados exclamou, dirigindo-se a F…

- Vou mostrar-lhe o seu quarto. Desculpe-me, mas é necessário vendar-lhe os olhos.

F. tomou altivamente o lenço das mãos do mascarado, cobriu ele mesmo os olhos, e saíram.

Fiquei só com o mascarado alto, que tinha a voz simpática e atraente.

Perguntou-me se queria jantar. Contanto lhe respondesse negativamente, ele abriu uma mesa, trouxe um cabaz em que havia algumas comidas frias. Bebi apenas um copo de água. Ele comeu.

Lentamente, gradualmente, começámos a conversar quase em amizade. Eu sou naturalmente expansivo, o silêncio pesava-me. Ele era instruído, tinha viajado e tinha lido.

De repente, pouco depois da uma hora da noite, sentimos na escada um andar leve e cauteloso, e logo alguém tocar na porta do quarto onde estávamos. O mascarado tinha ao entrar tirado a chave e havia-a guardado no bolso. Erguemo-nos sobressaltados. O cadáver achava-se coberto. O mascarado apagou as luzes.

Eu estava aterrado. O silêncio era profundo; ouvia-se apenas o ruido das chaves que a pessoa que estava fora às escuras procurava introduzir na fechadura.

Nós, imoveis, não respirávamos.

Finalmente a porta abriu-se, alguém entrou, fechou-a, acendeu um fosforo, olhou. Então vendo-nos, deu um grito e caiu no chão, imóvel, com os braços estendidos.

Amanhã, mais sossegado e claro de recordações, direi o que se seguiu.

* * * * *

P.S. - Uma circunstância que pode esclarecer sobre a rua e o sítio da casa: De noite senti passarem duas pessoas, uma tocando guitarra, outra cantando o fado.





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