O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 5: CAPÍTULO IV Pág. 22 / 245

Há um que ainda não falou, que está sempre olhando para ti.

Receia que o conheças, é teu amigo talvez, não o percas de vista.

Um dos mascarados aproximou-se, perguntando:

- Quanto tempo pode ficar o corpo assim nesta chaise-longue?

Eu não respondi. O que me interrogou fez um movimento colérico, mas conteve-se. Neste momento o mascarado mais alto, que tinha saído, entrara, dizendo para os outros:

- Pronto!…

Houve uma pausa; ouvia-se o bater da pendula e os passos de F…, que passeava agitado, com o sobrolho duro, torcendo o bigode.

- Meus senhores, continuou voltando-se para nós o mascarado - damos-lhe a nossa palavra de honra que somos completamente estranhos a este sucesso. Sobre isto não damos explicações. Desde este momento os senhores estão retidos aqui. Imaginem que somos assassinos, moedeiros falsos ou ladrões, tudo o que quiserem. Imaginem que estão aqui pela violência, pela corrução, pela astucia, ou pela força da lei… como entenderem! O fato é que ficam até amanhã. O seu quarto - disse-me - é naquela alcova, e o seu - apontou para F. - lá dentro. Eu fico consigo, doutor, neste sofá. Um dos meus amigos será lá dentro o criado de quarto do seu amigo. Amanhã despedimo-nos amigavelmente e podem dar parte à polícia ou escrever para os jornais.

Calou-se. Estas palavras tinham sido ditas com tranquilidade. Não respondemos.

Os mascarados, em quem se percebia um certo embaraço, uma evidente falta de serenidade, conversavam baixo, a um canto do quarto, junto da alcova. Eu passeava. Numa das voltas que dava pelo quarto, vi casualmente, perto de uma poltrona, uma coisa branca semelhante a um lenço. Passei em frente da poltrona, deixei voluntariamente cair o meu lenço, e no movimento que fiz para o apanhar, lancei despercebidamente mão do objeto caído.





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