Ela calou-se.
- Oh, doida! disse eu, rindo. Se me quisesse matar não to pedia. Mas sou feliz… Passaram-se outras coisas, vês tu? Não tas digo, mas sou feliz. Sabes o que é? É que me vou logo encontrar com ele.
E com a voz mais baixa, como envergonhada:
- É às dez horas, e vês tu? Queria dormir para não esperar.
- Oh, minha senhora, não lhe vá fazer mal! De resto, eu lho dou. O frasco de ópio está aqui nesta gaveta do lavatório. Não lhe faça isto mal, meu Deus!
- Não, não, minha Bety! Ah! está na gaveta? Bem. São duas gotas, sim? Não me faz mal. Estou tão contente! Olha, até nem quero dormir. Fica aqui a conversar comigo. São cinco horas. Para as dez pouco falta. Não custa esperar. Está então naquela gaveta o frasco… Bom. Sabes, Bety? sou feliz. Não quero dormir. Conta-me uma história.
A pobre criatura, vendo-me alegre, sorria. Eu, entretanto, tinha os olhos fitos na gaveta do lavatório. Bety falava, falava! Eu ouvia as suas palavras sem compreender, como se ouve um murmúrio de água.