Ritmel!
- Saiu, senhora condessa.
- Jacques?
- Foi com ele, senhora condessa.
Jacques era um criado antigo de Ritmel.
- Luís, leva-me ao quarto de Mr. Ritmel.
Ao abrir a porta do quarto estremeci. Sentia-me humilhada. Fui rapidamente a uma secretária, revolvi as gavetas, as pequenas papeleiras. Nenhumas cartas, apenas cartas indiferentes. Irritada, abri as comodas, espalhei as roupas, procurei nos baús, nas malas, nos bolsos, ergui o travesseiro. Tremia, arquejava. Era uma busca inquisitorial, frenética, desesperada, infame!
- Luís, disse eu baixo, Luís, tens vinte libras. Tens cinquenta.
- Mas, minha senhora…
- Este senhor onde tem as suas cartas? Tens cem libras. Dou-te tudo, estupido… Onde tem ele as cartas, ele?
- Oh minha senhora! disse o criado, com uma voz lamentável, eu não sei.
- Não tens visto? Não tem uma secretária, uma papeleira, uma carteira?…
- Tem. Tem uma carteira de marroquim. Trá-la consigo. Anda cheia de cartas…Levou-a decerto. Nunca a deixa.
Saí, desci a escada, correndo, fugindo daquele desastre, daquela vergonha, daquelas confidências. Atirei-me para o fundo da carruagem.
- A casa! gritei.
Tinha fechado os stores; soluçava, sem soluçar[2].
- Bety! Bety! clamei logo no corredor.
Ela apareceu, correndo.
- Bety, disse eu, vivamente, fechando a porta do quarto. Diz-me: aquela água com ópio não faz mal?
- Porquê? sente-se doente?
- Não. Estou bem. Não faz mal?
- Nenhum.
- Juras?
- Juro. Mas…
- Jura sobre estes santos Evangelhos.
- Oh, senhora! Mas porquê? Juro. Mas porquê?
- Tens ópio? Dá-mo.
- Quer dormir?
- Não.
Ela então olhou-me, fez-se extremamente pálida:
- Mas, senhora condessa, que quer isto dizer?
- Dá-mo. Dá-mo, Bety.