O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 6: CAPÍTULO V Pág. 26 / 245

O homem calou-se.

- Quem lhe falou nisto?

Calou-se.

- Que vinha fazer, de noite, às escondidas, a esta casa?

Calou-se.

- Mas como sabia deste absoluto segredo, de que apenas temos conhecimento nós?…

E voltando-se para mim, para me advertir com um gesto impercetível do expediente que ia tomar, acrescentou:

- … nós e o senhor comissário.

O desconhecido calou-se. O mascarado tomou-lhe o paletó e examinou-lhe os bolsos. Encontrou um pequeno martelo e um maço de pregos.

- Para que era isto?

- Trazia naturalmente isso, queria concertar não sei quê, em casa… um caixote…

O mascarado tomou a luz, aproximou-se do morto, e por um movimento rápido, tirando a manta de viagem, descobriu o corpo: a luz caiu sobre a lívida face do cadáver.

- Conhece este homem?

O desconhecido estremeceu levemente e pousou sobre o morto um longo olhar, demorado e atento.

Eu em seguida cravei os meus olhos, com uma insistência implacável nos olhos dele, dominei-o, disse-lhe baixo, apertando-lhe a mão:

- Porque o matou?

- Eu? gritou ele. Está doido!

Era uma resposta clara, franca, natural, inocente.

- Mas porque veio aqui? observou o mascarado, como soube do crime? Como tinha a chave? Para que era este martelo? Quem é o senhor? Ou dá explicações claras, ou daqui a uma hora está no segredo, e daqui a um mês nas galés. Chame os outros, disse ele para mim.

- Um momento, meus senhores, confesso tudo, digo tudo! gritou o desconhecido.

Esperámos; mas retraindo a voz, e com uma intonação demorada, como quem dita:

- A verdade, prosseguiu, é esta: encontrei hoje de tarde um homem desconhecido, que me deu uma chave e me disse: sei que é Fulano, que é destemido, vá a tal rua, n.º tantos…

Eu tive um movimento avido, curioso, interrogador.





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