O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 10: TERCEIRA PARTE - DE F… AO MÉDICO
CAPÍTULO I Pág. 51 / 245

A ser o individuo que eu supunha, a caixa do relógio teria a lisura do esmalte e no centro a saliência de um brasão.

- Escreverei duas linhas, disse eu; quererá dar-me um lápis?

Tínhamos chegado ao quarto que me era destinado e eu desvendei-me ao tempo em que ele saia prometendo trazer-me o necessário para escrever. O individuo que voltou com papel e penas não era o mesmo que acabara de sair. Assim tinha eu perdido a ocasião de confirmar uma suspeita ou de desvanecer uma dúvida.

Em todo o caso escrevi duas linhas ao meu criado serenando-o com relação ao meu desaparecimento.

- Mais nada? interrogou o desconhecido tomando o meu bilhete.

- Nada mais.

Um sentimento de delicadeza e uma sombra de desconfiança impediam-me de escrever diretamente à pessoa a quem o mascarado se referira.

Fecharam a porta e fiquei só.

Achei-me num quarto de interior, bastante espaçoso, mas sem janela. A um lado havia um lavatório; sobrepostas a um canto três malas de viagem, de coiro de Varsóvia com pregos de aço, estreladas com senhas de caminhos de ferro, de hotéis e de paquetes; a que estava por cima das outras tinha em grandes letras pretas sobre uma tira de papel este dístico: Grand-Hote-l’Paris; uma das senhas era dos paquetes ingleses da carreira da India. Para outro lado do quarto havia uma cama. Completava a simples guarnição deste aposento um sofá forrado de marroquim verde, colocado no meio da casa em frente de uma ampla mesa em que estava posta a minha ceia à luz fulgurante de um grande candeeiro com largo abat-jour.

Queres que te confesse a verdade? Agradou-me aquele recolhimento, aquele sossego, aquela solidão, depois da grande sobrexcitação em que me tinha achado!

Estirei-me no sofá, pus-me a olhar maquinalmente





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