Fui caindo molemente num despego languido, fecharam-se-me os olhos, adormeci.
Ao acordar, depois de um sono breve mas sossegado e reparador, encarei na ceia que reluzia aos meus olhos.
Havia sobre a mesa um pão, uma caixa de lata com sardinhas de Nantes, uma terrinazinha de foie gras, uma perdiz, uma fatia de queijo e três garrafas de vinho de Bourgogne, lacradas de verde; junto destas, quatro garrafas de soda. Na argola de prata do guardanapo estava passado o saca-rolhas. Sobre uma bandeja de metal erguia-se um feixe de charutos cor de chocolate, luzidios, gordos, apertados nas extremidades com duas fitas de seda carmesim. Em cima da caixa das sardinhas achava-se colocado o instrumento destinado a abri-la. O copo era de cristal finíssimo, o garfo de prata dourada, a faca de cabo de madrepérola, os pratos de porcelana brancos, cercados de um estreito filete dourado e verde. Atirei rapidamente com os pés para o chão. Sentei-me no sofá, senti a fome encavalar-se-me no dorso, carregar-me na cabeça para cima da ceia, cingir-me a cinta com as suas pernas esgalgadas e cravar-me no estomago vazio os acicates da gula.