O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 12: CAPÍTULO III Pág. 77 / 245

simplicidade lorpa?

E enfim, que mulher é aquela, que aí se entrevê? Porque a quer o mascarado salvar? Que roubo é aquele de 2:300 libras? Sejamos lógicos: dado o tipo do mascarado, cavalheiroso e nobre, como é que ele, vendo que o crime teve por origem o roubo, procura salvar e tem considerações por uma mulher que mata para roubar?

Se ele suspeita que o crime cometido por essa mulher teve por móbil a paixão, como explica o roubo?

Demais, se desconfiava que ela estivesse envolvida naquele fato, se estava tão ligado com ela que a queria salvar, porque a não procurou logo, porque a não interrogou, em lugar de ir surpreender gente para as estradas, e vir fazer tableau em volta de um cadáver?

Ah! como toda esta história é artificial, postiça, pobremente inventada! aquelas carruagens como galopam misteriosamente pelas ruas de Lisboa! aqueles mascarados, fumando num caminho, ao crepúsculo, aquelas estradas de romance, onde as carruagens passam sem parar nas barreiras, e onde galopam, ao escurecer, cavaleiros com capas alvadias! Parece um romance do tempo do ministério Vilele. Não falo nas cartas de F… que não explicam nada, nada revelam, nada significam - a não ser a necessidade que tem um assassino e um ladrão de espalmar a sua prosa oca, nas colunas de um jornal honesto.

Dedução: o doutor *** foi cúmplice de um crime; sabe que há alguém que possui esse segredo, presente que tudo se vai espalhar, receia a polícia, houve alguma indiscrição; por isso quer fazer poeira, desviar as pesquisas, transviar as indagações, confundir, obscurecer, rebuçar, enlear, e em quanto lança a perturbação no público, faz as suas malas, vai ser cobarde para França, depois de ter sido assassino aqui!

O que faz no meio de tudo isto o meu amigo M.





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