E mais baixo:
- … e de vago amor … Sabe explicar-me isto?
Estávamos sós, no alto mar, sob um luar calmo, o conde dormia; a longa ondulação da água arfava como um seio, sob a luz; sentia-se já o magnético calor de África. Eu tomei-lhe as mãos e disse-lhe num segredo:
- Sabe que está linda!
- Oh! primo! interrompeu ela rindo. Mas nós somos amigos velhos! Está doido! O que é falar de noite, sós, ao luar, em amor! Ah! meu amigo, creia que o que senti, inexplicável como é, não foi por si, graças a Deus, foi por alguém que eu não conheço, que vou encontrar talvez, que não vi ainda. Sabe? Foi um pressentimento… aí está! Como o luar é traiçoeiro, meu Deus! E eu que estou velha!
Eu ia responder, rir. Uma luz brilhou a distância na bruma noturna: o capitão aproximou-se:
- Conhecem aquela luz?
- Nunca viajei neste mar, capitão - respondi.
- São portugueses, não?… Aquela luz é o farol de Ceuta.
Era uma luz melancólica, e humilde. Nenhum de nós se importava com Ceuta. Daí a momentos descemos à camara. Eu estava surpreendido, nunca tinha ouvido à condessa palavras que caracterizassem tanto o estado do seu coração. Achava-se naquele período em que um amor pode apoderar-se para sempre de uma existência.
Que sucederia se lhe aparecesse um homem belo, nobre, forte, que lhe dissesse de joelhos, uma noite, sob o luar como há pouco, as coisas infinitas da paixão?
Na manhã seguinte avistámos o monte de Gibraltar. Desembarcámos. Numa praça, à entrada, um regimento inglês, de uniformes vermelhos, manobrava ao som da canção do general Boum.
- Detesto os ingleses, disse a condessa.
- O quê?! gritou o conde com uma voz indignada. Os ingleses! Detestas os ingleses?
E voltando-se