D. Nicazio Puebla, que o Purser me apresentara já, viera fumar para o pé de mim.
- Esteve na India, Cabalero? perguntei-lhe eu.
- Dois anos, em Calcutá. Foi lá que conheci o capitão Ritmel.
Convivíamos muito. Jantávamos sempre juntos. Fui à caça do tigre com ele.
Cacei o tigre. Deve ir a Calcutá! Que palácios! Que fabricas!
- O capitão é um valente oficial.
- É alegre. O que nós riamos! E bravo, então! Se lhe parece! Salvou-me a vida.
- Nalguma caçada.
- Eu lhe conto.
Tínhamo-nos aproximado da pôpa, falando. Neste momento vi eu a espanhola encaminhar-se para o lugar em que a condessa falava com Ritmel, e com uma resolução atrevida, a voz altiva, dizer-lhe:
- Capitão, tem a bondade, dá-me uma palavra?
A condessa fez-se muito pálida. O capitão teve um movimento colérico, mas ergueu-se e seguiu a espanhola.
Eu aproximei-me da condessa.
- Quem é esta mulher? Que quer?… disse-me ela toda trémula.
Eu sosseguei-a e dirigi-me a D. Nicazio.
- Viu aquele movimento da sua mulher?
- Vi.
- É inconveniente: e o cavalheiro responde decerto pelas fantasias ou pelos hábitos daquela senhora…
- Eu! gritou o espanhol, eu não respondo por coisa alguma. O senhor que quer? É um monstro essa mulher! Livre-me dela, se pôde! Olhe: quere-a o senhor? Guarde-a. Está sempre a fazer destas Cenas! E não lhe posso fazer uma observação! É uma fúria, usa punhal!
- Esta mulher, fui eu dizer à condessa, é uma criatura sem consideração e parece que sem dignidade. Não a olhe, não a escute, não a perceba, não a pressinta. Se houver outra inconveniência eu dirijo-me ao comandante, como se ela fosse um grumete insolente. É pena… é terrivelmente linda!
A espanhola no entanto, junto da amurada, falava violentamente ao capitão Ritmel que a escutava frio, impassível, com os olhos no chão.