O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 16: CAPÍTULO IV Pág. 94 / 245

CAPÍTULO IV

D. Nicazio Puebla, que o Purser me apresentara já, viera fumar para o pé de mim.

- Esteve na India, Cabalero? perguntei-lhe eu.

- Dois anos, em Calcutá. Foi lá que conheci o capitão Ritmel.

Convivíamos muito. Jantávamos sempre juntos. Fui à caça do tigre com ele.

Cacei o tigre. Deve ir a Calcutá! Que palácios! Que fabricas!

- O capitão é um valente oficial.

- É alegre. O que nós riamos! E bravo, então! Se lhe parece! Salvou-me a vida.

- Nalguma caçada.

- Eu lhe conto.

Tínhamo-nos aproximado da pôpa, falando. Neste momento vi eu a espanhola encaminhar-se para o lugar em que a condessa falava com Ritmel, e com uma resolução atrevida, a voz altiva, dizer-lhe:

- Capitão, tem a bondade, dá-me uma palavra?

A condessa fez-se muito pálida. O capitão teve um movimento colérico, mas ergueu-se e seguiu a espanhola.

Eu aproximei-me da condessa.

- Quem é esta mulher? Que quer?… disse-me ela toda trémula.

Eu sosseguei-a e dirigi-me a D. Nicazio.

- Viu aquele movimento da sua mulher?

- Vi.

- É inconveniente: e o cavalheiro responde decerto pelas fantasias ou pelos hábitos daquela senhora…

- Eu! gritou o espanhol, eu não respondo por coisa alguma. O senhor que quer? É um monstro essa mulher! Livre-me dela, se pôde! Olhe: quere-a o senhor? Guarde-a. Está sempre a fazer destas Cenas! E não lhe posso fazer uma observação! É uma fúria, usa punhal!

- Esta mulher, fui eu dizer à condessa, é uma criatura sem consideração e parece que sem dignidade. Não a olhe, não a escute, não a perceba, não a pressinta. Se houver outra inconveniência eu dirijo-me ao comandante, como se ela fosse um grumete insolente. É pena… é terrivelmente linda!

A espanhola no entanto, junto da amurada, falava violentamente ao capitão Ritmel que a escutava frio, impassível, com os olhos no chão.





Os capítulos deste livro