Laurence levantou-se também, aproximou-se dos dois espiões e disse:
- Leiam em voz alta; será o vosso castigo! Como eles liam apenas com os olhos, ela própria leu em voz alta a carta seguinte:
«Querida Laurence,
«Soubemos do seu lindo comportamento no triste dia da nossa prisão, meu marido e eu. Sabemos que estima os nossos gémeos queridos tanto e tão bem como nós próprios os estimamos; por isso a escolhemos para guardar um depósito ao mesmo tempo precioso e triste para eles.
«O senhor carrasco acaba de nos cortar os cabelos, pois vamos morrer dentro de instantes, e prometeu-nos que lhe faria chegar, às mãos as duas únicas lembranças nossas que nos é possível deixar aos nossos órfãos bem-amados. Peço-lhe, pois, que guarde estes restos que são nossos, dar-lhos-á em melhores tempos. Aqui deixamos um derradeiro beijo para eles, com a nossa bênção. O nosso último pensamento será primeiro para os nossos filhos, depois para si, e por fim para Deus! Queira-lhes muito.
Berta de Cinq-Cygne.
João de Simeuse,»
Todos tinham as lágrimas nos olhos quando acabou a leitura da carta.
Laurence disse aos dois agentes, numa voz firme, relanceando-lhes um olhar petrificante:
- Os senhores têm menos piedade que o senhor carrasco!
Corentin colocou tranquilamente os cabelos na carta, e pôs esta de lado em cima da mesa, assentando-lhe um cestinho cheio de fichas, para que ela não voasse.