Um Caso Tenebroso - Cap. 17: XVII - DÚVIDAS DOS DEFENSORES OFICIOSOS Pág. 183 / 249

- Pois bem, vinde para minha casa, que fica no centro da cidade, perto do tribunal; vós e os vossos advogados estarão ali melhor do que aqui, onde todos se encontram uns sobre os outros e longe de mais do campo de batalha. Tendes de atravessar a cidade todos os dias.

Laurence aceitou; o velho conduzia-a, bem como à Senhora de Hauteserre, a sua casa, que foi a dos defensores e dos habitantes de Cinq-Cygne enquanto durou o processo. Depois do jantar, fechadas as portas, Bordin pedia a Laurence que lhe contasse exactamente as circunstâncias do caso, recomendando-lhe que não omitisse nenhum pormenor, ainda que alguns dos factos anteriores tivessem sido repetidos a Bordin e ao jovem defensor pelo marquês durante a viagem que tinham feito de Paris a Troyes. Bordin ouviu, com os pés no fogão, sem se permitir qualquer importância. O jovem advogado, esse, não pôde deixar de se dividir entre a admiração que lhe causava a Menina de Cinq-Cygne e a atenção devida aos elementos da causa.

- E é tudo, realmente? - perguntou Bordin, quando Laurence acabou de narrar os acontecimentos do drama tal qual como esta narrativa os apresentou até agora.

- É - respondeu ela.

O mais profundo silêncio reinou durante alguns instantes no salão do solar de Chargeboeuf onde decorria esta cena, uma das mais graves na vida e uma das mais raras também. Todo o processo é julgado pelos advogados antes dos juízes, da mesma forma que a morte do doente é pressentida pelos médicos antes da luta que uns travarão com a Natureza e os outros com a Justiça. Laurene e, o Senhor e a Senhora de Hauteserre e o marquês, todos tinham os olhos fitos na velha máscara negra e profundamente marcada pela variolado idoso procurador, de cuja boca iam sair palavras de vida ou de morte.





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