Um Caso Tenebroso - Cap. 17: XVII - DÚVIDAS DOS DEFENSORES OFICIOSOS Pág. 184 / 249

O Senhor de Hauteserre enxugou algumas gotas de suor que lhe perlavam a testa. Laurence fitou o jovem advogado e viu-lhe uma expressão contristada.

- Então, meu caro Bordin? - disse o marquês, oferecendo-lhe a sua caixa de rapé, onde o procurador meteu os dedos distraidamente para tirar uma pitada.

Bordin esfregou as barrigas das pernas enfiadas em grossas meias de filoselle preto, pois estava com calções de pano escuro, e trazia uma casaca que, pela sua forma, dir-se-ia talhada à francesa; relanceou o olhar malicioso aos seus clientes, procurando imprimir-lhe uma expressão receosa., mas gelou-os.

- Acham que devo dissecar o caso - disse ele -, e falar-lhes francamente?

- Faz favor! - incitou-o Laurence.

- Tudo que fizeram de bem feito se voltará contra vós - disse-lhe então o velho prático. Não podemos salvar os seus parentes; quando muito, podemos atenuar-lhes a pena. A venda que mandaram fazer dos bens de Michu será tomada como a mais evidente prova das vossas intenções criminosas na pessoa do senador. Mandastes o pessoal propositadamente para Troyes, a fim de estardes sós, e isso será tanto mais plausível quanto é certo ser verdade. O mais velho dos Hauteserre disse a Beauvisage uma palavra terrível, que os perde a todos. A Menina pronunciou outra, no pátio da sua casa, a qual provava, com grande antecedência, as vossas más intenções a respeito de Gondreville. Quanto a si, Menina estava em observação na altura do rapto; se a não inculparam ainda, foi para não introduzirem um elemento de interesse no caso.

- A causa não é defensável! - exclamou o Senhor de Granville.

- É-o tanto menos - voltou Bordin - quanto é certo não podermos dizer a verdade. Michu, os Senhores de Simeuse e de Hauteserre devem apenas sustentar que foram consigo à floresta durante parte do dia e que vieram almoçar a Cinq-Cygne.





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