- Trata-se - disse Malin - de fazer atirar aos Bourbons, por Bonaparte, a cabeça do duque de Enghien, como a Convenção atirou aos reis a cabeça de Luís XVI, para a ensopar tão fundo como nós na marcha da Revolução; ou de derrubar o ídolo actual do povo francês e o seu futuro imperador, para assentar o verdadeiro trono em cima dos seus despojos. Estou dependente de um acontecimento, de um tiro de pistola bem sucedido, de uma máquina da Rua Saint-Nicaise que funcione a tempo. Não me disseram tudo. Propuseram-me entrar em contacto com o conselho de Estado no momento crítico e dirigir a acção legal da restauração dos Bourbons,
- Espera - atalhou o notário.
- Impossível! Só disponho da hora presente para tomar uma decisão.
-E porquê?
- Os dois Simeuse conspiram, estão cá dentro; tenho ou de mandar segui-los, deixá-los comprometerem-se e desembaraçar-me deles, ou protegê-los surdamente. Pedi subalternos e• mandaram-me dois linces da melhor escolha que passaram por Troyes para terem garantido o comando da polícia.
- Gondreville é o Tens, a conspiração o Terás - disse Grévin. - Nem Fouché nem Talleyrand, os teus dois parceiros, lá estão.
- Joga franco com eles. Como assim? Todos os que cortaram a cabeça a Luís XVI estão no governo; a França encontra-se cheia de adquirentes dos bens nacionais, e tu queres mandar vir aqueles que te hão-de exigir a entrega de Gondreville? Se os Bourbons não forem imbecis hão-de passar uma esponja sobre tudo o que nós fizemos.