Um Caso Tenebroso - Cap. 6: VI - FISIONOMIAS REALISTAS NO TEMPO DO CONSULADO Pág. 65 / 249

Há doze anos que ela não vê os primos, de quem tanto gosta; eu, no seu lugar, se fosse nova e bonita, ia mesmo daqui direita à Alemanha! Quem sabe se a pobre pequena não se sente atraída pela fronteira...

- Muito andarilha é, menina Goujet - disse o cura, sorrindo.

- Mas - voltou ela - vejo-vos preocupados com as idas e vindas de uma rapariga de vinte e três anos, e procuro explicá-las.

- Os primos hão-de voltar, ela será rica, acabará por sossegar - obtemperou o bom do Hauteserre.

- Deus queira! - exclamou a idosa senhora, pegando na caixa de rapé, de oiro que voltara à luz do dia depois do Consulado.

- Temos, novidades cá pela terra - disse o bom Senhor de Hauteserre -; Malin está em Gondreville desde ontem à noite.

- Malin? - exclamou Laurence, desperta por este nome, apesar do seu profundo sono.

- É verdade - afirmou o cura -; mas vai-se embora esta noite, e muita coisa se diz a respeito desta viagem precipitada.

- Esse homem - observou Laurence - é o gênio mau das nossas duas casas.

A jovem condessa acabava de sonhar com os primos e os Hauteserre, e vira-os ameaçados. Os seus lindos olhos tornaram-se fixos e ternos ao lembrar-se dos perigos que todos eles corriam em Paris; levantou-se bruscamente e subiu para o seu quarto, sem dizer palavra. Vivia no quarto nobre, junto ao qual havia um gabinete e um oratório, no torreão que olhava para a floresta. Quando saiu do salão, os cães ladraram" tocaram à cancela e Durieu apareceu, assustado, no salão:

- Está ali o mairel Há qualquer coisa de novo - disse ele.

Este maire, antigo picador da casa de Sim eu se, vinha algumas vezes ao castelo, onde, por uma questão política, os de Hauteserre lhe testemunhavam uma deferência a que ele atribuía o mais alto preço.





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