Um Caso Tenebroso - Cap. 1: I - OS JUDAS Pág. 7 / 249

- Que é do pequeno? - perguntou Michu à mulher.

- Anda Já para o pé do tanque. É doido por rãs e por Insectos-i- disse a mãe.

Michu assobiou e de tal maneira que era de tremer.

A prontidão com que o filho acorreu comprovava o despotismo exercido pelo administrador de Gondreville. Desde 1789 para cá, mas sobretudo depois de 1793, Michu era pouco menos que o senhor daquela terra. O terror que inspirava à mulher. à sogra. a um criadito chamado Gaucher e a urna criada. de nome Marianne, era o mesmo que inspirava dez léguas em roda.

Talvez seja chegado o momento de expor as razões deste sentimento, as quais, de resto, acabarão por completar, moralmente, o retrato de Michu.

O velho marquês de Simeuse desfizera-se dos seus bens em 1790; mas, ultrapassado pelos acontecimentos, não pudera depor em mãos fiéis a sua bela terra de Gondreville. Acusados de manterem correspondência com o duque de Brusnwick e o príncipe de Cobourg, foram presos e condenados à morte pelo tribunal revolucionário de Troyes, presidido pelo pai de Marta, o marquês de Simeuse e a mulher. Aquelas belas propriedades foram, portanto, vendidas como património nacional.

Aquando da execução do marquês e da marquesa, não sem uma espécie de horror, foi notada a presença do guardião das terras de Gondrevillle, nessa altura já presidente do Clube dos Jacobinos de Arcis, que expressamente viera a Troyes para assistir à cerimónia. Órfão e filho de um modesto camponês, Michu, que só recebera benefícios da marquesa, que o empossara no cargo de guarda geral, depois de o mandar educar no castelo; assumiu aos olhos dos exaltados as proporções de um Brutus; ninguém, porém, o voltou a ver mais naqueles sítios após essa prova de ingratidão. O arrematador foi um homem de Arcís, chamado Marion, neto de um feitor da casa de Simeuse.





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