Um Caso Tenebroso - Cap. 9: IX - DESDITAS DA POLÍCIA Pág. 93 / 249

- Muitas vezes - tornou-lhe o pobre homem, com a maior simplicidade - o senhor maire pode confirmá-lo.

- Toda a gente sabe que ela tem as suas manias - acrescentou Catarina. - Estava a olhar lá para fora antes de se deitar, e naturalmente, ao ver brilhar ao longe as baionetas, ficou intrigada; «Quero saber de que se trata, disse ela, ao sair, talvez seja outra revolução.»

- Quando saiu ela? - perguntou Peyrade.

- Quando viu as espingardas.

- E por onde é que saiu?

- Não sei.

- E o outro cavalo? - perguntou Corentin.

-Os ... os ... gen ... dar ... mes ... apanharam-mo! - balbuciou Gothard.

- E aonde ias tu? - perguntou um dos gendarmes.

- Ia .. .ia ... a ... trás ... da mi. .. mi. .. nha ama para a quin ... ta.

O gendarme encarou com Corentin, como à espera de ordens, mas aquelas palavras eram ao mesmo tempo tão verdadeiras e tão falsas, tão profundamente inocentes e tão manhosas, que os dois parisienses se entreolharam como para repetir a frase de Peyrade: «Eles não são parvos!»

O gentil-homem parecia não ter espírito que chegasse para compreender um epigrama. O maire era estúpido. A mãe, imbecil na sua maternidade, dirigia aos agentes perguntas de uma inocência estúpida. Toda aquela gente fora, de facto, surpreendida num primeiro sono.

Na presença de tão pequenos factos, avaliando bem aqueles diferentes caracteres, Corentin percebeu que o seu único adversário de respeito era ar Menina de Cinq-Cygne, Por mais hábil que seja, a polícia tem sempre contra ela muitas desvantagens. Não só é obrigada a saber tudo o que o conspirador sabe mas, ainda por cima, forçada a supor um ror de coisas antes de ter a certeza de, uma que seja. O conspirador, pensa constantemente na sua segurança, enquanto que a polícia só desperta quando chega a ocasião.





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