Um Caso Tenebroso - Cap. 9: IX - DESDITAS DA POLÍCIA Pág. 98 / 249

Trouxera o abade Goujet para um sítio fortemente iluminado pelo luar, e, ao dizer estas palavras fatais, fitara-o bruscamente nos olhos, O padre achava-se seriamente aflito, mas verdadeiramente surpreendido e completamente em branco.

- É ,preciso, que compreenda, senhor abade - voltou Corentin - que os seus direitos sobre as terras de Gondreville os torna. duplamente criminosos aos olhos das pessoas subalternas! Enfim, eu queria que eles tivessem que ver com Deus e não com os Santos.

- Há então uma conjura? - perguntou, ingenuamente, o cura.

- Ignóbil, odiosa, e tão contrária ao espírito generoso da nação - volveu-lhe Corentin -, que terá a reprovação geral.

- Pois fique sabendo que a Menina de Cinq-Cygne é incapaz de uma cobardia! - exclamou o cura.

- Senhor abade - prosseguiu Corentin -ouça: nós temos (sempre aqui entre nós) provas evidentes da sua cumplicidade; mas ainda não chegam para a justiça. Ela fugiu quando nós chegámos...

,E entretanto eu tinha-lhes mandado o maire.

- Sim, sim, mas para quem mostra tanto interesse em salvá-los, talvez siga demasiado as pisadas do maire - tornou-lhe o abade.

Dito o que, entreolharam-se os dois homens, e entre os dois tudo ficou entendido; pertenciam, tanto um como outro, à raça desses profundos anatomistas do pensamento para quem uma simples inflexão de voz, um olhar, uma palavra, é quanto basta para adivinharem uma alma, da mesma forma que o selvagem pressente os seus inimigos, graças a índices invisíveis a olhos de europeu.

«Julguei que ia tirar dele alguma coisa, e acabei por descobrir o meu jogo!» - pensou Corentin,

«Ah!, patife!» - disse de si para consigo o cura.

Soava meia-noite no velho relógio da igreja, quando, Corentin e o cura voltaram a entrar no salão.





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