Um Caso Tenebroso - Cap. 9: IX - DESDITAS DA POLÍCIA Pág. 97 / 249

O Primeiro Cônsul gosta dos antigos nobres e não pode com os republicanos, e por uma razão muito simples: se quiser um trono, precisa de jugular a liberdade. Que este segredo fique entre nós! Por isso, veja bem, esperarei até amanhã, serei cego, mas desconfie do agente; esse maldito provençal serve o diabo, tem a palavra de Fouché, assim como eu tenho a do Primeiro Cônsul.

- Se os Senhores de Simeuse estivessem aqui - tornou-lhe o cura -, daria dez pingas do meu sangue e um braço, mesmo, para os salvar; mas se a Menina de Cinq-Cygne é porventura sua confidente, a verdade é esta e, eu lhe juro pela minha salvação eterna, não disse palavra sobre o assunto e não me deu sequer a honra de me consultar. E devo dizer-lhe que estou muito contente com a sua discrição, se porventura há discrição. Ontem à noite, como todas as noites, jogámos o boston, no mais profundo silêncio, até às dez horas e meia, e nada vimos nem nada ouvimos. Neste vale solitário não passa uma criança sem que toda a gente a veja e o saiba; ora há quinze dias que aqui não vem qualquer pessoa estranha. Os Senhores de Hauteserre e de Simeuse, só por si, são quatro. O pobre homem e a esposa estão rendidos ao governo, e fizeram todos os esforços imagináveis para chamar os filhos para junto de si; ainda anteontem lhes escreveram. Por isso, na minha alma e consciência, foi preciso que os senhores aqui aparecessem para abalarem a firme convicção em que eu estava de que eles continuavam na Alemanha. Entre nós, nesta casa, só a jovem condessa não faz justiça às eminentes qualidades do Senhor Primeiro Cônsul.

«Finório!» pensou Corentin. - Se esses rapazes vierem a ser fuzilados, é porque os senhores o quiseram - tornou-lhe ele, em voz alta -; agora lavo daqui as minhas mãos.





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