Ouviam-se abrir e fechar às portas dos quartos e dos armários. Os gendarmes desfaziam as camas. Peyrade, com a rápida inteligência do espião, pesquisava e sondava tudo. Este saque provocava ao mesmo tempo terror e indignação nos fiéis servidores do castelo, sempre imóveis e de pé. O Senhor de Hauteserre trocava com a mulher e a Menina Goujet olhares de comiseração. Uma horrível curiosidade mantinha: toda a gente desperta. Peyrade desceu as escadas e entrou no salão, tendo nas mãos um cofre de sândalo esculpido, naturalmente outrora trazido da China pelo almirante de Simeuse. A caixa era chata e mais ou menos do tamanho de um volume in-quarto; Peyrade acenou para Corentin, e ambos, se aproximaram da ombreira da janela.
- Cá está! - exclamou ele. - Esse Michu, que tinha oitocentos mil francos em oiro para comprar Gondreville ao Marion, e que ainda há pouco queria matar Malin, deve ser o homem de confiança dos Simeuse; o interesse que o levou a ameaçar Marion deve ser o mesmo que o levou a fazer ponto de mira em Malin. Pareceu-me homem para ter a sua fisgada, e não há dúvida, pelo menos está a par de tudo, e deve ter vindo aqui avisá-los.
- Malin, naturalmente, falou da conspiração com o amigo notário - corroborou Corentin, prosseguindo as induções do seu colega -, e Michu, escondido, ouviu falar dos Simeuse. Com efeito, ele só deve ter desistido do tiro de carabina para evitar uma desgraça que se lhe afigurou maior que a perda de Gondreville.
- E percebeu imediatamente quem nós éramos - disse Peyrade. - Por isso, desde logo se me afigurou prodigiosa a inteligência do campónio.
- Oh! Isso só prova que ele estava de pé atrás - respondeu Corentin, - Mas, no fim de contas, meu velho, deixemo-nos de coisas: a traição cheira mal, e os primitivos sentem-lhe o cheiro de longe.