Mas a bruma não se levantava e às onze horas o sol continuava encoberto. A sua ausência inquietava-nos. Sem ele não seria possível fazermos observações. Como determinar então se realmente tínhamos atingido o pólo? Aproximei-me do Capitão Nemo que estava encostado em um rochedo olhando para o céu. Pareceu-me contrariado e impaciente. Não podia fazer nada. Homem audaz e poderoso ele não imperava no sol tal como o fazia no mar.
Chegou ao meio-dia sem que o astro-rei aparecesse por um só instante. Era até possível se reconhecer o lugar que ele ocupava por trás da cortina de nuvens.
- Fica para amanhã - disse-me o capitão.
Voltamos ao “Nautilus”.
No dia seguinte, 20 de março, o frio era intenso. O nevoeiro começou a dissipar-se e ficamos esperançosos de que o sol aparecesse para fazermos as nossas observações.
Como o capitão ainda não tinha aparecido, eu e Conselho pegamos o bote e fomos para a terra. Dirigimo-nos diretamente para a praia do que julgamos ser o continente. Milhares de aves, como encontráramos na pequena ilha, animavam aquela parte do continente polar, mas a partilhavam com enormes rebanhos de mamíferos marinhos, os quais nos olhavam calmamente. Eram focas de várias espécies, umas estendidas no solo, outras deitadas em pedaços de gelo à deriva, e muitas outras saindo ou entrando nas águas do mar. Não fugiam à nossa aproximação, demonstrando que não nos receavam. Calculei que ali havia uma quantidade delas suficiente para abastecer algumas centenas de navios.