Chegávamos enfim à floresta, sem dúvida uma das mais belas do imenso domínio do Capitão Nemo. Ele a considerava sua e julgava ter sobre ela os mesmos direitos que tinham os homens primitivos na, alvorada da humanidade. Aliás, quem lhe disputaria aquela propriedade submarina? Que outro pioneiro mais ousado, viria, de machado na mão, cortar-lhe a mata?
Aquela floresta era composta por grandes plantas arborescentes, e assim que penetramos debaixo das suas ramagens, os meus olhos sentiram-se atraídos pela estranha disposição dos ramos, a qual nunca tinha visto até então nas florestas da superfície terrestre. Nenhuma erva das que atapetavam o solo, nenhum ramo dos arbustos se enroscava ou se estendia num plano horizontal: todos subiam para a superfície do mar. Não havia um filamento, uma fita, por mais delgada que fosse, que não se mantivesse direita como se fosse um fio de ferro.
Notei também que todos os espécimes do reino vegetal: estavam presos ao solo apenas por uma ligação superficial. Desprovidos de raízes, indiferentes ao corpo sólido, areia, concha ou pedra, que as suportava apenas lhe pediam apoio e não vitalidade. Essas plantas provêm de si mesmas e o princípio de sua existência está na água, que as sustenta e alimenta.
Por volta de uma hora o Capitão Nemo fez sinal para que parássemos. Por mim, fiquei muito satisfeito, e estendemo-nos debaixo de uma árvore, cujos longos e estreitos ramos se erguiam como flechas. Depois de quatro horas a andar, surpreendi-me por não sentir fome. Não sabia como explicar aquela disposição do estômago, mas em contrapartida, sentia uma irresistível vontade de dormir, como acontece a todos os mergulhadores.