Aqui começa a segunda parte dessa viagem submarina. A primeira terminou com a comovente cena do cemitério de coral, que deixou no meu espírito a mais profunda emoção. Assim, no seio do mar imenso, decorria a vida do Capitão Nemo e aí ele ficaria até a morte, já que tinha preparado o seu túmulo no mais impenetrável dos seus abismos, onde nenhum dos monstros do oceano poderia ir perturbar o último sono do comandante e dos tripulantes do “Nautilus”, esses amigos unidos uns aos outros tanto na vida como na morte.
“Nenhum homem também”, acrescentara o capitão, iria perturbar-lhes o sono eterno. Sempre a mesma desconfiança, feroz e implacável, para com as sociedades humanas.
Quanto a mim, no que dizia respeito ao Capitão Nemo já não me contentava com as hipóteses que satisfaziam Conselho. Para ele, o capitão era um gênio incompreendido que, farto das decepções da terra, tinha-se refugiado naquele meio inacessível onde os seus instintos atuavam livremente. Todavia, na minha opinião, essa hipótese explicava apenas uma das facetas do Capitão Nemo.
Efetivamente, o mistério da noite durante a qual ele havia-nos metido na prisão e nos narcotizado, a sua atitude violenta ao me tirar o óculo das mãos, o ferimento mortal daquele homem, tudo isso ultrapassava o natural. Para mim o Capitão Nemo não se contentava apenas em fugir dos homens. O seu formidável submarino servia não somente aos seus anseios de liberdade, mas também para exercer quaisquer terríveis represálias.