À volta do “Nautilus” e por cima e por baixo havia uma intransponível muralha de gelo. Estávamos prisioneiros do banco de gelo. Ned Land bateu com sua robusta mão numa mesa. Conselho permanecia calado. Eu olhava para o capitão: seu rosto retomara a habitual impassibilidade.
Tinha cruzado os braços e refletia. O “Nautilus” estava imóvel e nenhum de nós tinha qualquer ideia salvadora.
Então o capitão rompeu o silêncio e disse:
- Meus senhores, nas condições em que nos encontramos, há duas maneiras de morrermos. - Sua voz soou calma, parecia um professor de matemática fazendo uma demonstração. - A primeira é morrermos esmagados, a segunda é morrermos asfixiados. Não falo da possibilidade de morrermos de fome, porque as provisões do “Nautilus” certamente durarão mais do que nós. Preocupemo-nos portanto com as hipóteses de esmagamento e asfixia.
- Quanto à asfixia - disse eu - não é muito de recear porque os nossos reservatórios estão cheios de ar.
- É verdade. Chegam para mais dois dias - falou o capitão. - Ora, estamos há trinta e seis horas debaixo da água e a pesada atmosfera do “Nautilus” pede para ser renovada. Dentro de quarenta e oito horas a nossa reserva de ar estará esgotada. Entretanto, vamos tentar perfurar a muralha que nos rodeia. A sonda nos indicará o lado melhor para a nossa tentativa. Vou encalhar o “Nautilus” no banco inferior e os meus homens, envergando escafandros, atacarão o iceberg pela sua parede menos espessa.
- Pode-se abrir os painéis, capitão? - perguntei.
- Não há inconveniente porque estamos parados.
Ele saiu em seguida. Logo depois o “Nautilus” desceu lentamente e foi parar ao banco de gelo a uma profundidade de trezentos e cinquenta metros.