Nenhum de nós poderá jamais esquecer essa terrível cena. Eu a escrevi sob a pressão de uma violenta emoção. Depois li o relato a Conselho e Ned Land. Eles o acharam exato nos fatos, mas insuficiente nos efeitos.
Para pintar semelhantes quadros seria necessária a pena do mais ilustre dos nossos poetas, o autor de Travailleurs de la Mer.
Eu disse que o Capitão Nemo chorava ao olhar as águas. A sua dor foi imensa. Era o segundo companheiro que ele perdia desde a nossa chegada a bordo. E que morte o homem tivera!
Aquele amigo esmagado, sufocado, despedaçado pelos poderosos tentáculos de um polvo, devorado pelas suas mandíbulas de ferro, não iria repousar com os companheiros nas pacíficas águas do cemitério de coral.
Para mim, no meio da luta, fora aquele grito de desespero que me cortara o coração. O pobre francês, esquecendo a sua língua convencional, recorrera à sua língua natal para um supremo grito de apelo!
Entre a tripulação do “Nautilus”, associado de corpo e alma ao Capitão Nemo, fugindo como ele do contato dos homens, eu tinha um compatriota. Seria o único a representar a França naquela misteriosa associação, evidentemente constituída por indivíduos de nacionalidades diferentes? Era ainda um dos problemas insolúveis que constantemente me assaltava o espírito.
O Capitão Nemo entrou para o seu quarto e eu não o vi durante algum tempo. Como deveria estar triste, desesperado, indeciso, a julgar pelo navio de que era a alma e que recebia todas as suas atenções. O “Nautilus” deixara de ter uma direção determinada. Ia e vinha, flutuando como um cadáver á deriva. A hélice tinha sido reparada, mas ele quase não a usava.