O comandante Farragut era um marinheiro muito experiente, digno da fragata que dirigia. Navio e comandante eram um só, sendo este a alma daquele. Sobre a existência real do cetáceo gigante, o Comandante Farragut não tinha a menor dúvida, e não permitia que os seus homens pensassem diferente dele.
A tripulação observava os mares com escrupuloso cuidado, cada homem querendo ganhar a soma de dois mil dólares prometida para aquele que, grumete ou marinheiro, mestre ou oficial, avistasse o monstro primeiro. Por isso, todos forçavam os olhos a bordo da “Abraham Lincoln”. A fragata não faltava nenhum meio de destruição. Mas ainda tinha mais: entre a sua tripulação encontrava-se Ned Land, homem conhecido como o rei dos arpoadores.
Ned Land era um canadiano de uma destreza pouco comum, sem rival no seu perigoso mister. Agilidade e sangue-frio, audácia e esperteza eram qualidades que ele possuía em elevado grau, e seria preciso uma baleia muito manhosa ou um cachalote particularmente astucioso para escapar ao seu arpão.
Entretanto, ele era o único homem a bordo que não acreditava na existência do fabuloso cetáceo, deixando de participar da convicção geral. Resolvi conversar com ela sobre o assunto.
Numa magnífica noite, a 30 de julho, isto é, três semanas depois de nossa partida de Nova Iorque, encontrava-se a fragata nas alturas do Cabo Branco, trinta milhas a sotavento das costas da Patagônia. Tínhamos ultrapassado o Trópico de Capricórnio e o Estreito de Magalhães situava-se a menos de setecentas milhas para o sul. Dentro de oito dias, a fragata estaria navegando em águas do Pacífico.
- Ned, como pode estar convencido de que o narval que vamos caçar não existe? Tem razões particulares para proceder assim?