Essa maneira de dizer, o imprevisto da cena, a história do navio patriota, a emoção com que a estranha personagem tinha pronunciado o nome “Vingador”, cujo significado não me podia escapar, tudo isso se reuniu para preocupar extremamente o meu espírito. O meu olhar nunca mais deixou o capitão, que de mãos estendidas para o mar, observava com olhar ardente os gloriosos destroços. Talvez nunca chegasse a saber quem ele era, de onde vinha, para onde ia, mas via cada vez mais o homem separar-se do sábio. Não era uma misantropia comum que tinha encerrado dentro do “Nautilus” o Capitão Nemo e os seus companheiros, mas um ódio monstruoso ou sublime que o tempo não podia enfraquecer.
Esse ódio procuraria ainda vinganças? O futuro em breve me diria. Entretanto, o “Nautilus” subia lentamente à superfície do mar e vi desaparecer pouco a pouco as formas confusas do “Vingador”. Um ligeiro balanço indicou-me que flutuávamos à superfície.
Ouviu-se então uma detonação surda. Olhei o capitão, que não se mexeu.
- Capitão?
Deixei-o e subi à plataforma, onde Conselho e Ned já se encontravam. Olhei na direção do navio que tinha avistado. Tinha se aproximado do “Nautilus” e via-se que forçava o vapor. Separavam-no de nós seis milhas.
- Que navio é aquele, Ned?
- Pelo seu aparelho e pela altura dos mastros, parece-me um navio de guerra. Ah, se ele pudesse acabar com esse maldito “Nautilus”!
- Meu caro Ned - respondeu Conselho. - Que pode ele fazer ao “Nautilus”? Atacá-lo debaixo d’água? Bombardeá-lo no fundo dos mares?
- Diga-me Ned, consegue reconhecer a nacionalidade do navio?
O canadiano franziu o sobrolho, baixou as pálpebras, fixou o navio por instantes utilizando todo o poder da sua visão.