Os painéis fecharam-se sobre aquela horrível visão, mas a luz do salão não foi acesa. No interior do “Nautilus” reinavam as trevas e o silêncio.
O navio deixou aquele local de desolação, cem pés abaixo da superfície das águas, com uma rapidez prodigiosa. Para onde iria? Para o norte, para o sul? Para onde fugiria aquele homem depois de tão terrível vingança?
Voltei ao meu quarto, onde Ned e Conselho me aguardavam em silêncio. Senti um incontrolável horror pelo Capitão Nemo. Fosse o que fosse que tivesse sofrido por causa dos homens, não lhe assistia o direito de os castigar daquela forma. Tinha-me transformado senão em cúmplice, pelo menos em testemunha das suas vinganças! Era demasiado!
As onze horas, reapareceu a luz elétrica. Passei ao salão, que estava deserto. Consultei os diversos instrumentos e verifiquei que o “Nautilus” fugia para o norte a uma velocidade de vinte e cinco milhas por hora, ora à superfície, ora a trinta pés de profundidade.
Analisando a carta, vi que passávamos a largo da Mancha e nos dirigíamos para os mares boreais quase voando sob as águas. Aquela velocidade, ainda podia observar os esqualos de focinho comprido, os esqualos-martelo e os cações, que frequentam aquelas águas; as grandes águias-do-mar; os hipocampos, semelhantes aos cavalos do jogo de xadrez; as enguias, serpenteando como fogos de artifício; exércitos de caranguejos, que fugiam obliquamente, cruzando as patas sobre a carapaça, finalmente bandos de lobos-do-mar que competiam em velocidade com o “Nautilus”. Mas estudá-los, classificá-los, nem pensar nisso.