No dia seguinte, 22 de março, às seis horas da manhã, começamos os preparativos para a partida. Os últimos raios do crepúsculo misturavam-se com a noite. O frio era intenso. As constelações resplandeciam com surpreendente intensidade. No zênite brilhava o admirável Cruzeiro do Sul, a Estrela Polar das regiões antárticas.
O termômetro marcava doze graus abaixo de zero e quando o vento soprava sentia-se picadas dolorosas. Os pedaços de gelo multiplicavam-se na água. O mar tendia a gelar. Evidentemente a bacia natural, gelada durante os seis meses de inverno, seria inacessível. Os reservatórios de água haviam sido cheios e o “Nautilus” imergia lentamente. Parou a uma profundidade de trezentos metros. Avançou para o norte com uma velocidade de quinze milhas por hora. À tardinha já navegava sob a imensa carapaça do banco de gelo. Por prudência os painéis do salão tinham sido fechados para evitar possíveis choques dos vidros com algum bloco de gelo solto. Como não tinha nada para fazer no salão fui me deitar.
Às três horas da madrugada fui acordado por um choque violento. Levantei-me da cama e me pus à escuta no meio da obscuridade, quando fui bruscamente precipitado para o meio do quarto. O “Nautilus” adernava depois do choque. Amparei-me às paredes e arrastei-me pelos corredores até o salão. Conselho e Ned Land já estavam lá comentando o acontecimento, mas tão ignorantes como eu do que realmente acontecera e qual era a situação do submarino. Estávamos há vinte minutos tentando escutar os mínimos ruídos no interior do “Nautilus”, quando o Capitão Nemo entrou. O seu rosto habitualmente impassível revelava uma certa preocupação.