Na manhã seguinte, dia 18 de novembro, já refeito das fadigas da véspera, subi à plataforma no momento em que o imediato pronunciava a sua frase quotidiana. Veio-me então a ideia de que ele devia estar informando sobre o estado do mar e que as suas palavras significariam:
“Nada à vista!”
Eu admirava o magnífico aspeto do oceano, quando o Capitão Nemo apareceu. Tive a impressão de que ele não se apercebeu da minha presença e iniciou uma série de observações técnicas. Terminado o trabalho, foi encostar-se ao farol e o seu olhar perdeu-se no horizonte.
Entretanto, uns vinte marinheiros do “Nautilus”, todos eles homens vigorosos e bem constituídos, tinham subido à plataforma para puxar as redes lançadas durante a noite. Percebi que os homens eram oriundos de nações diferentes, embora o tipo europeu fosse comum a todos.
Reconheci irlandeses, franceses, alguns escandinavos e um grego. Aliás, esses homens eram muito sóbrios de palavras, e só utilizavam entre si aquele estranho idioma, cuja origem eu nem suspeitava. Assim, tive de renunciar ao meu desejo de interrogá-los.
As redes foram içadas para bordo. Calculei que tinham trazido mais de mil libras de peixes. Terminada a pesca e renovada a provisão de ar, pensei que o “Nautilus” iria continuar a sua excursão submarina e me preparava para descer ao meu quarto quando, virando-se para mim, o Capitão Nemo disse:
- Veja este oceano, professor. Não é dotado de uma vida real? Não tem as suas iras e ternuras? Ontem adormeceu como nós, e agora desperta após uma noite de calma.
Nem bom-dia, nem boa-noite! Parecia que aquele estranho personagem reatava comigo uma conversa suspensa poucos minutos antes.