Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 43: Capítulo 43 Pág. 234 / 258

Um ruído terrível enchia os ares, ruído complexo, feito dos gemidos das ondas esmagadas, dos uivos do vento e dos trovões. O vento soprava de todos os pontos do horizonte e o ciclone, partindo do leste, chegava ali, passando pelo norte, o oeste e o sul, no sentido inverso das tempestades giratórias do hemisfério austral.

Ah! A Gulf Stream justificava bem o nome de rainha das tempestades. Era ela que criava esses terríveis ciclones devido à diferença de temperatura das camadas de ar sobrepostas às suas correntes. À chuva sucedera uma bateria de fogos. As gotas de água transformavam-se em cristais fulminantes. Dir-se-ia que o Capitão Nemo, procurando uma morte digna dele, tentava ser fulminado. Num terrível movimento o “Nautilus” ergueu nos ares o seu esporão de ferro, como a haste de um para-raios, e eu vi saírem faíscas. Completamente esgotado, rastejei até o alçapão e fui para o interior do barco. A tempestade atingia então a sua máxima intensidade. Era impossível estar-se de pé dentro do “Nautilus”.

O Capitão Nemo entrou por volta da meia-noite. Ouvi os reservatórios encherem-se de água e pouco a pouco o submarino submergiu.

Através dos painéis do salão vi grandes peixes assustados, que passavam como fantasmas nas águas em fogo. Alguns eu vi sendo fulminados e tive medo.

O “Nautilus” continuava a descer. Pensei que encontraria a calma a uma profundidade de quinze metros. Mas não encontrou. As camadas superiores estavam demasiado agitadas. Foi preciso que ele fosse procurar repouso a cinquenta metros nas entranhas do mar.

A essa profundidade, que silêncio, que tranquilidade, que lugar pacífico! Quem diria que uma terrível tempestade rugia à superfície daquele mesmo oceano?





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