- Escute-me primeiro e verá se me pode acusar de contradição ou de loucura. Sabe tão bem quanto eu que o homem pode viver debaixo da água desde que leve consigo uma provisão de ar respirável.
- Sei. Usando escafandros.
- Exatamente. Mas, nas condições em que os conhece na terra esses aparelhos são muito imperfeitos ainda e dependem do fornecimento de ar através de um tubo apropriado que os liga à superfície. Esse sistema tolhe a liberdade do homem sob a água porque ele está preso à terra.
Se tivéssemos que ficar ligados por esse cordão umbilical ao “Nautilus”, não poderíamos ir longe.
- E qual é a maneira de se ficar livre e poder ir longe?
- Utilizando um aparelho Rouquayrol-Denayrouze, inventado por dois franceses, mas que aperfeiçoei para meu uso. O meu aparelho é composto por um reservatório de espessa chapa de ferro, dentro do qual armazeno o ar a uma pressão de cinquenta atmosferas. Este reservatório é fixo às costas por meio de correias, como a mochila de um soldado. Como eu tenho de suportar enormes pressões no fundo dos mares, tive de proteger a cabeça, como os escafandristas, dentro de uma esfera de cobre, e é a essa esfera que vão dar os dois tubos para inspiração e expiração.
- Perfeitamente, capitão. Mas o ar que transporta consigo deve esgotar-se rapidamente.
- Sem dúvida; mas as bombas do “Nautilus” me permitem armazena-lo a uma pressão considerável. Nessas condições, o reservatório do aparelho pode fornecer ar respirável durante nove ou dez horas.
- Não tenho mais objeções - falei-lhe. - Gostaria apenas de lhe fazer mais uma pergunta: como ilumina o caminho no fundo do oceano?