Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 54 / 258

Eram então dez horas da manhã. Os raios solares batiam na superfície das águas formando um ângulo bastante oblíquo. Ao contato da sua luz, decomposta pela refração como através de um prisma, flores, rochedos, plantas, conchas, pólipos, matizavam-se com as sete cores do espectro solar. Era algo maravilhoso, uma festa para os olhos. Eu sentia verdadeira mágoa por esmagar sob os pés os belos espécimes de moluscos que juncavam o solo. Os pentes concêntricos, os martelos, as donácias, verdadeiras conchas saltitantes, os troques, os capacetes-vermelhos, os estrombos asa-de-anjo, as afilas, e tantos outros exemplares daquele mar inesgotável. Mas era preciso avançar.

Tínhamos deixado o “Nautilus” há cerca de hora e meia. Era perto do meio-dia, fato de que me apercebi pela perpendicularidade dos raios solares, que já não se refratavam. A magia das cores desapareceu pouco a pouco, e as tonalidades de esmeralda e de safira dissiparam-se do nosso horizonte. Avançávamos a passo regular, que se ouvia com surpreendente nitidez.

Naquele ponto, o solo começou a inclinar-se numa encosta pronunciada. A luz tomou uma cor uniforme. Atingimos uma profundidade de cem metros, suportando então uma pressão de dez atmosferas. Porém, o meu escafandro estava concebido de tal forma que eu não sentia esta pressão, mas apenas uma certa dificuldade em mexer as articulações dos dedos, o que também não tardou a desaparecer.





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