Apenas uma vez, no dia seguinte àquele em que Benedetto recebera a visita de Bertuccio, na qual este lhe deveria indicar o nome do pai, apenas uma vez, no dia seguinte a esse, que era um domingo, uma única vez, insistimos, Villefort vira o pai. Fora num momento em que o magistrado, cansadíssimo, descera ao jardim do palácio, e sombrio, curvado a um pensamento implacável, qual Tarquínio abatendo com a sua chibata as papoilas mais altas, abatia com a bengala as longas hastes das malvas-rosas que se erguiam ao longo das alamedas como os espectros dessas flores tão brilhantes na estação que acabava de terminar.
Já por mais de uma vez chegara ao fundo do jardim, ou seja, ao famoso portão que dava para o recinto abandonado, voltando sempre pela mesma alameda e retomando o passeio com o mesmo passo e a mesma atitude, quando olhara maquinalmente para casa, na qual ouvia brincar ruidosamente o filho vindo do colégio para passar o domingo e a segunda-feira junto da mãe.
Nesse momento viu a uma das janelas abertas o Sr. Noirtier, que fizera rodar até ali a sua poltrona a fim de fruir os últimos raios de um Sol ainda quente que vinham saudar as flores moribundas dos volúveis e as folhas avermelhadas das vinhas-virgens que atapetavam a varanda.
O olhar do velho cravara-se, por assim dizer, num ponto que Villefort só distinguia imperfeitamente. Mas esse olhar de Noirtier era tão rancoroso, tão feroz, tão ardente de impaciência, que o procurador régio, habituado a captar todas as impressões daquele rosto, que conhecia tão bem, se afastou da linha que percorria para ver quem era a pessoa que o velho observava assim.
Viu então, debaixo de um maciço de tílias com os ramos já quase desguarnecidos, a Sr.ª de Villefort, que, sentada com um livro na mão, interrompia de vez em quando a leitura para sorrir ao filho ou devolver-lhe a bola de borracha que ele atirava obstinadamente da sala para o jardim.
Villefort empalideceu, pois sabia o que queria o velho.
Noirtier não tirava os olhos do mesmo alvo, mas, de súbito, o seu olhar desviou-se da mulher para o marido, e o próprio Villefort teve de suportar o ataque daqueles olhos fulminantes que, ao mudarem de alvo, mudaram também de linguagem, sem no entanto perderem nada da sua expressão ameaçadora.
A Sr.ª de Villefort, alheia a todas aquelas paixões, cujos fogos cruzados lhe passavam por cima da cabeça, segurava naquele momento a bola do filho, ao qual fazia sinal para a vir buscar com um beijo. Mas Édouard fez-se rogar longamente.