O Conde de Monte Cristo - Cap. 111: Expiação Pág. 1023 / 1080

»Viverá e será ainda feliz, pois todo o seu amor é para o filho e o filho não a deixará. Praticarei uma boa acção e isso conforta o coração.

E o procurador régio respirou mais livremente do que respirava havia muito tempo.

A carruagem parou no pátio do palácio.

Villefort saltou do estribo para a escadaria; viu os criados surpreendidos por o verem regressar tão cedo. Não leu mais nada nas suas fisionomias. Ninguém lhe dirigiu a palavra; pararam apenas diante dele, como de costume, para o deixarem passar, e mais nada.

Passou diante do quarto de Noirtier e distinguiu através da porta entreaberta como que duas sombras, mas não quis saber quem era a pessoa que estava com o pai; era para outro lado que as suas preocupações o puxavam.

- Vamos - disse, subindo a escadinha que conduzia ao patamar onde ficavam os aposentos da mulher e o quarto vazio de Valentine. - Nada mudou aqui...

Antes de mais nada fechou a porta do patamar.

- Não quero que ninguém nos incomode - disse. - Quero falar à vontade, acusar-me diante dela, dizer-lhe tudo...

Aproximou-se da porta e deitou a mão à maçaneta de cristal; a porta cedeu.

- Não está fechada! Bem... muito bem - murmurou.

E entrou na salinha onde à noite armavam uma cama para Édouard, pois, apesar de interno, Édouard vinha ficar a casa todas as noites, a mãe nunca quisera separar-se dele.

Abarcou num relance de olhos toda a salinha.

- Ninguém - disse. - Está no quarto, sem dúvida...

E correu para a porta. Mas ali o fecho estava corrido. Parou atremer.

- Héloïse! - gritou.

Pareceu-lhe ouvir arrastar um móvel.

- Héloïse! - repetiu.

- Quem é? - perguntou a voz da mulher.

Pareceu-lhe que a voz era mais fraca do que de costume.

- Abra! Abra! - gritou Villefort. - Sou eu! Mas, apesar desta ordem, apesar do tom angustioso com que era dada, não abriram.

Villefort arrombou a porta com um pontapé

A Sr.ª de Villefort estava de pé à entrada da sala que dava para o seu boudoir, pálida, com as feições contraídas e com uma fixidez assustadora nos olhos.

- Héloïse! Héloïse! - gritou o marido. - Que tem? Fale! A jovem senhora estendeu-lhe a mão hirta e lívida.

- Está feito, senhor - disse num arquejo que pareceu dilacerar-lhe a garganta. - Que mais quer? E caiu redonda no tapete.

Villefort correu para ela e pegou-lhe na mão. A mão apertava convulsivamente um frasco de cristal com rolha de ouro.

A Sr.ª de Villefort estava morta.

Ébrio de horror, Villefort recuou até à entrada da sala e olhou o cadáver.

- Meu filho! - gritou de súbito. - Onde está o meu filho? Édouard! Édouard!





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069