O Conde de Monte Cristo - Cap. 112: A partida Pág. 1032 / 1080

- É próprio dos espíritos enfraquecidos ver todas as coisas através de um crepe. É a alma que abre a si própria os seus horizontes; como a sua alma está sombria, é ela que lhe mostra um céu tempestuoso.

- É provável que isso seja verdade - admitiu Maximilien.

E voltou a cair no seu devaneio.

A viagem decorreu com a maravilhosa rapidez que era um dos poderes do conde. As cidades passavam como sombras ao longo da estrada; as árvores, sacudidas pelos primeiros ventos do Outono, pareciam vir ao encontro deles como gigantes desgrenhados, e desapareciam rapidamente assim que as alcançavam. No dia seguinte de manhã chegaram a Chalon, onde os esperava o barco a vapor do conde. Sem perda de um instante, a carruagem foi transportada para bordo; os dois viajantes já tinham embarcado.

O barco, talhado para corrida, dir-se-ia uma piroga índia. As suas duas rodas pareciam duas asas com as quais rasava a água como uma ave de arribação. O próprio Morrel experimentava essa espécie de embriaguez da velocidade, e às vezes o vento que lhe agitava os cabelos parecia prestes a afastar por um momento as nuvens que lhe cobriam a testa.

Quanto ao conde, à medida que se afastava de Paris parecia envolvê-lo como que uma auréola uma serenidade quase sobre-humana. Dir-se-ia um exilado que regressasse à pátria.

Em breve Marselha, branca, tépida, viva; Marselha, a irmã mais nova de Tiro e Cartago, às quais sucedeu no domínio do Mediterrâneo, Marselha, sempre mais nova à medida que envelhece, em breve lhes surgiu diante dos olhos. Não faltavam para ambos aspectos férteis em recordações, como a Torre Redonda, o Forte de S. Nicolau, a Câmara Municipal de Puget e o porto de cais de tijolo onde um e outro tinham brincado na infância.

Por isso, de comum acordo, detiveram-se na Cannebière.

Partia um navio para Argel. Os tardos e os passageiros empilhados na coberta, a chusma dos parentes e dos amigos que se despediam, gritavam e choravam, espectáculo sempre comovente mesmo para aqueles que assistem todos os dias a esse espectáculo, todo aquele movimento não conseguiu distrair Maximilien de uma ideia que o assaltara no momento em que pusera pé nas grandes lajes do cais.

- Veja - disse, pegando no braço de Monte-Cristo foi aqui que meu pai parou quando o Pharaon entrou no porto; foi aqui que o excelente homem que o senhor salvara da morte e da desonra se lançou nos meus braços. Sinto ainda a impressão das suas lágrimas na minha cara, e ele não chorava sozinho, muita gente também chorava ao ver-nos.

Monte-Cristo sorriu.

- Eu estava ali - disse, mostrando a Morrel a esquina de uma rua.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069