O Conde de Monte Cristo - Cap. 15: O número 34 e o número 27 Pág. 118 / 1080

- Digo que me enganei, que a imperfeição dos meus desenhos me levou a resultados errados, que a falta de uma bússola me perdeu, que uma linha de erro no meu plano equivaleu na realidade a quinze pés e que tomei a parede que o senhor abriu pela da cidadela!

- Mas então iria dar ao mar!

- Era o que eu queria.

- E se tivesse conseguido?

- Deitava-me a nado, alcançava uma das ilhas que rodeiam o Castelo de If, quer a ilha de Daume, quer a ilha de Tiboulen, quer até a costa, e estava salvo.

- Conseguiria nadar até lá?

- Deus dar-me-ia forças. E agora está tudo perdido!

- Tudo?

- Sim. Tape o seu buraco, com precaução, não trabalhe mais, não faça nada e espere as minhas notícias.

- Quem é, ao menos? Ao menos diga-me quem é!

- Sou... sou... nº 27

- Desconfia de mim? - perguntou Dantès.

Edmond julgou ouvir como que um riso amargo transpor a abóbada e subir até ele.

- Oh, sou um bom cristão! - gritou, adivinhando instintivamente que aquele homem tencionava abandoná-lo.

- Juro-lhe por Cristo que mais depressa me deixarei matar do que entrever aos seus carrascos e aos meus a sombra da verdade. Mas em nome do Céu não me prive da sua presença, não me prive da sua voz, suplico-lhe, pois cheguei ao limite das minhas forças e juro-lhe que partirei a cabeça contra a muralha e o senhor será culpado da minha morte.

- Que idade tem? A sua voz parece a de um rapaz.

- Não sei a minha idade, porque não contei o tempo desde que estou aqui. O que sei é que ia fazer dezanove anos quando fui preso, em 28 de Fevereiro de 1815

- Ainda não completou vinte e seis anos - murmurou a voz. - bom, nessa idade ainda se não é um traidor.

- Oh, não, não! Juro-lhe - repetiu Dantès. - Já lhe disse e repito que mais depressa me deixarei fazer em bocados do que o atraiçoarei

- Fez bem em falar-me; fez bem em pedir-me, porque ia formar outro plano e afastar-me de si. Mas a sua idade tranquiliza-me. Irei ter consigo; espere por mim.

- Quando?

- Tenho de calcular as nossas probabilidades. Depois lhe darei sinal.

- Mas não me abandonará, não me deixará sozinho, virá ter comigo ou permitir-me-á que vá ter consigo? Fugiremos juntos, e se não pudermos fugir falaremos, o senhor das pessoas que lhe são queridas e eu das minhas. Decerto tem alguém que lhe é querido?...

- Estou só no mundo.

- Então, seremos amigos. Se for novo, serei seu camarada; se for velho, serei seu filho. O meu pai deve ter setenta anos, se ainda é vivo. Não amava mais ninguém a não ser ele e uma rapariga chamada Mercédès. O meu pai não me esqueceu, tenho a certeza; mas ela, só Deus sabe se ainda pensa em mim. Amá-lo-ei como amava o meu pai

- Pois sim, amanhã - disse o prisioneiro.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069