O Conde de Monte Cristo - Cap. 16: Um sábio italiano Pág. 126 / 1080

Só raramente vi as evasões serem bem sucedidas. As evasões que resultam, as evasões coroadas de pleno êxito, são as evasões meditadas com cuidado e preparadas lentamente. Foi assim que o duque de Beaufort fugiu do Castelo de Vincennes, o abade Dubuquoi do Fort-l'evêque e Latude da Bastilha. Há ainda aquelas que se devem ao acaso; essas são as melhores. Acredite em mim: esperemos uma oportunidade, e se essa oportunidade se apresentar, aproveitemo-la.

- O senhor pôde esperar - observou Dantès suspirando. - Esse longo trabalho era para si uma ocupação de todos os instantes e quando não tinha o seu trabalho para se distrair tinha as suas esperanças para se confortar.

- Bom, não me ocupava só disso.

- Que mais fazia?

- Escrevia ou estudava.

- Davam-lhe papel, penas e tinta?

- Não, mas eu fazia-os - respondeu o abade.

- O senhor... o senhor faz papel, penas e tinta?! - exclamou Dantès.

- Faço.

- Dantès olhou para aquele homem com admiração.

Simplesmente, tinha ainda dificuldade em acreditar no que ele dizia. Faria notou essa ligeira dúvida.

- Quando for à minha cela - disse-lhe o abade -, mostrar-lhe-ei uma obra completa, resultado dos pensamentos, das investigações e das reflexões de toda a minha vida, que meditei à sombra do Coliseu de Roma: ao pé da Coluna de S. Marcos, em Veneza; nas margens do Arno, em Florença, etc., e que estava quase certo de que um dia os meus carcereiros me deixariam tempo para executar entre as quatro paredes do Castelo de If. É um Tratado sobre a Possibilidade de Uma Monarquia Geral na Itália. Dará um grande volume inquarto.

- E como o escreveu? - Em duas camisas. Inventei um preparado que torna o pano liso e compacto como o pergaminho.

- É portanto químico?

- Um pouco. Conheci Lavoisier e Cabanis.

- Mas para escrever semelhante obra precisou de proceder a investigações históricas. Tinha livros para isso?

- Em Roma, tinha cerca de cinco mil volumes na minha biblioteca. À força de os ler e reler, descobri que com cento e cinquenta obras bem escolhidas se obtém, senão o resumo completo dos conhecimentos humanos, pelo menos tudo o que é útil a um homem saber. Dediquei três anos da minha vida a ler e reler esses cento e cinquenta volumes, de forma que já os sabia pouco mais ou menos de cor quando fui preso. Na prisão, com um ligeiro esforço de memória, recordei-os por completo. Assim, poderia citar-lhe Tucídides, Xenofonte, Plutarco, Tito Lívio, Tácito, Estrada, Jornandes, Dante, Montaigne, Shakespeare, Espinosa, Maquiavel e Bossuct. E só lhe cito os mais importantes.

- Mas então sabe várias línguas?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069